Por Karime Loureiro, colunista VemTambém
Ontem comemoramos o dia da Uva Carménère, mas você sabia que por muito tempo está uva foi tida como extinta?
A uva Carménère é uma variedade originária da região de Bordeaux, na França, tendo, inclusive, feito parte do tradicional corte bordalês antes mesmo do Cabernet Sauvignon, surgido por volta do século XIX, e da Merlot, surgida no século seguinte.
Contudo, por volta dos anos 1870, vinhedos franceses foram devastados pela praga filoxera; acreditou-se então que esta casta estava extinta. O que não se sabia era que exemplares da Carménère haviam migrado para a América do Sul.
A história da Carménère no Chile está diretamente ligada à colonização europeia. Durante os séculos 18 e 19, era muito comum que uvas viníferas do Velho Mundo fossem importadas para o continente americano, incentivando a vinicultura no novo território.
Pela similaridade na aparência e características dos vinhos, a uva Carménère era confundida pelos chilenos com a Merlot. Durante quase 150 anos, os rótulos gerados pelas vinícolas do Chile apontavam para a casta incorreta.
Foi em 1994 que ocorreu o que é conhecido como a Redescoberta da Carménère. Durante uma ida de ampelógrafos e enólogos franceses ao Chile, foi possível verificar que alguns dos frutos chamados de Merlot tinham um tempo de cultivo mais longo.
A partir de um teste de DNA, foi possível saber que se tratava da Carménère, uma variação quase extinta na Europa. Essa descoberta mudou os rumos da indústria de vinhos do Chile, que passou a investir nesse fruto como forma de se destacar no mercado mundial. Tanto que hoje a Carmenere é a uva ícone do Chile. Mas a gente se pergunta: Por que essa casta dá-se tão bem no Chile?
A sobrevivência dela deu-se graças ao isolamento geográfico chileno. O país é cercado ao oeste pelo Oceano Pacífico, ao leste pela Cordilheira dos Andes, ao sul pelas terras isoladas da Antártica e ao norte pelas areias do Deserto do Atacama.
Logo, as vinhas crescem por lá com segurança, livres de poluição e salvas de pragas exterminadoras como a filoxera.
Mas voce sabia que a Carménère também é cultivada na Itália, Estados Unidos e na China? Nesta última é conhecida como Cabernet Gernischt. Porém, a quantidade produzida nem se compara com a das terras sul-americana.
Merlot x Carménère
Apesar da semelhança e características próximas, algumas diferenças relevantes ajudam na identificação destas videiras. Quando jovem, as folhas da Carménère têm uma tonalidade avermelhada por baixo, enquanto as folhas da merlot são brancas.
Há ainda outra razão que acaba por gerar uma certa “confusão” entre elas, qual seja a proximidade dos sabores. Ambas são conhecidas por apresentarem aromas doces e taninos suaves. Todavia, outros detalhes fazem a disticão entre elas.
As videiras da robusta Carménère amadurecem de 2 a 3 semanas mais tarde do que as da Merlot. As safras são reduzidas para que ela esteja bem madura no tempo de colheita.
Quando bem amadurecida, a uva gera vinhos ricos, com tons de cereja e notas de café e de chocolate.
O nome em francês “Carménère” significa “carmim”, em português, e está diretamente relacionado à cor da pele dessa uva, que exibe tonalidade forte de um vermelho intenso. Essa coloração característica é facilmente transferida para os vinhos elaborados a partir da vinha.
A Carménère é uma casta exigente e complexa que encontrou em solo chileno as condições climáticas ideais para se proliferar e demonstrar todo o seu sabor e potencial. Por ser uma uva muito sensível e demorar mais para amadurecer se comparada a outras variedades, as vinhas precisam de atenção especial.
Quando colhida no momento exato, a espécie tem profundidade e frescor que lembram aromas de frutas negras maduras — como ameixas e cerejas —, de pimenta preta, de herbáceos e de terra úmida. Se for retirada das vinhas de maneira tardia, a sua acidez é reduzida.
De modo geral, os bons vinhos produzidos à base dessa uva são elegantes, bem estruturados, possuem coloração escura, profunda e contam com sabores aveludados, sedosos e marcantes. Os exemplares envelhecidos em carvalho ganham complexidade e podem apresentar notas de chocolate, baunilha e tabaco.
Na boca, despertam taninos mais macios que a Cabernet Sauvignon e a Malbec. Entretanto, não chegam a ter delicadeza da Pinot Noir nem da Merlot.
Harmonização da Carménère
Vinhos com corpo médio, como os da Carménère, harmonizam com pratos com a mesma intensidade. Por isso, esta uva pode e acompanhar frutos do mar bem condimentados, carnes brancas e vermelhas, massas, risotos e queijos, entre muitas outras opções.
Em se tratando de carnes brancas, sempre opte por temperos mais fortes ou molhos carregados para que o vinho não ultrapasse o sabor do prato. Já para as vermelhas, escolha cortes bovinos e suínos com pouca gordura e sabor equilibrado, como filé mignon, ponta de peito e copa-lombo.