Convidadas pela Revista VemTambém, a Fernanda Perini e a Victória Amato, do instagram @doispontosliteratura selecionaram sete livros imperdíveis para você ler em 2021.
Aproveitei!
Pachinko
Autora: Min Jin Lee
Editora: Intrínseca
Para quem é fã do gênero ficções históricas e pretende explorar, por meio da literatura, diferentes universos culturais, este romance é uma excelente pedida. O livro acompanha três gerações de imigrantes coreanos vivendo no Japão, no início do século XX, e suas intrincadas batalhas pela sobrevivência numa sociedade marcada pelo preconceito e pela discriminação. Quem dá o ponto de partida na história é a adolescente coreana Sunja, que, ao engravidar de um homem muito mais velho, casado e influente na região, aceita se casar com um pastor e se mudar para o Japão. A partir daí, são cerca de cem anos narrados com maestria pela autora Min Jin Lee, acompanhando os filhos, netos e bisnetos da matriarca,
todos com personalidades cativantes e distintas, mas que se unem pelo sentimento comum de não pertencimento e de busca pela própria identidade. Uma obra que definitivamente prende e sensibiliza o leitor.
Meninos de Zinco
Autora: Svetlana Aleksiévitch
Editora: Companhia das Letras
A autora Svetlana Aleksiévitch, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de 2015 por “A guerra não tem rosto de mulher”, aborda momentos históricos extremamente difíceis vividos pela Rússia (ou, anteriormente, pela União Soviética) com extrema sensibilidade e clareza. Em “Meninos de Zinco”, mais um de seus livros jornalísticos, o pano de fundo é Guerra do Afeganistão e seus impactos tanto para os militares jovens que foram enviados ao campo de batalha, quanto para seus familiares, amigos e demais russos que permaneceram em suas terras acompanhando essa guerra hoje vista por muitos como desnecessária e sem objetivos.
Por meio da reunião de inúmeros depoimentos de indivíduos de alguma forma impactados pela Guerra do Afeganistão, Svetlana expõe os desafios, o orgulho, a dor, a saudade, a raiva, o amor e tantos outros sentimentos inerentes ao ser humano vividos por esses personagens da vida real. Sem dúvida nenhuma, apesar de ser uma leitura densa em razão do assunto tratado, é um livro muito rico em detalhes e essencial para os amantes da história mundial.
Quando Nietzsche chorou
Autor: Irvin D. Yalom
Editora: Harper Collins (foto)
Neste cativante romance, o autor Irvin D. Yalom mescla realidade e ficção com maestria. O pano de fundo da obra é Viena, no século 19; os personagens, que atraem de imediato qualquer leitor desavisado, são ninguém menos que Joseph Breuer, Friedrich Nietzsche e Sigmund Freud.
O ponto central da narrativa é a relação médico-paciente, satisfatoriamente
ambígua, que há entre o médico Joseph Breuer e Nietzsche; o filósofo enfrenta graves problemas de saúde, mas aceita se submeter ao tratamento recomendado sob a condição de que possa explorar as questões internas que atormentam a mente do renomado doutor que o atende, por meio de técnicas como a conversa, a interpretação de sonhos e a hipnose (referindo, como já percebe o leitor, ao início da psicanálise).
Temos como resultado diálogos absolutamente marcantes, que englobam questões psicológicas, filosóficas e humanas, que ganham específico destaque nos diálogos entre as figuras principais da obra. Um convite maravilhoso ao universo da psicanálise, sob a forma de um romance fluido e sensível, do início ao fim.
1988: Segredos da Constituinte
Autor: Luiz Maklouf Carvalho
Editora: Record
Em “1988: Segredos da Constituinte”, o brilhante jornalista Luiz Maklouf Carvalho reúne entrevistas dos principais personagens envolvidos na elaboração da Constituição Federal Brasileira de 1988, episódio que marcou o fim da era autoritária da ditadura no Brasil e a esperança pela liberdade e garantia dos direitos fundamentais. O livro conta com entrevistas tanto de políticos participantes da Assembleia Constituinte, quanto de lobistas, assessores e representantes da sociedade civil que de certa forma estiveram envolvidos na elaboração da então nova Constituição. Por meio de perguntas claras e objetivas, Maklouf leva ao leitor à compreensão dos motivos da existência de algumas inconsistências no texto constitucional, o entendimento sobre o processo político legislativo como um todo e permite o “teletransporte” do leitor à época marcada por grandes anseios de diversos grupos sociais por tempos melhores. Para quem se interessa por política, é um livro muitíssimo interessante!
Amada
Autora: Toni Morrison
Editora: Companhia das Letras
“Amada”, ouso dizer, é um romance extremamente necessário. Obra-prima de Toni Morrison, a primeira mulher negra a receber o prêmio Nobel de literatura (1993), o livro conta a história de Sethe, uma ex-escrava, e sua filha Denver, que enfrentam toda a sorte de desafios – raciais, econômicos, políticos e sociais – no período imediatamente posterior à abolição da escravatura nos Estados Unidos. A trama principal conta ainda com a falecida filha de Sethe, que assombra a casa e os pensamentos das duas mulheres. Dois são os pontos principais do romance, aos quais deve se atentar o leitor: há um realismo mágico e uma não-linearidade que permeiam todo o livro, com alternâncias sucessivas tanto do narrador quanto da cronologia dos fatos (que inclusive acabam
misturados às memórias das personagens); mais ainda, há uma crítica essencial à ausência de uma efetiva política pública de reinserção dos negros, ex-escravizados, à sociedade. Uma aula de história, de empatia e de superação.
Samuel Wainer: O homem que estava lá
Autora: Karla Monteiro
Editora: Companhia das Letras
Muitos anos após a publicação da autobiografia “Minha razão de viver”, na qual o jornalista Samuel Wainer conta sua trajetória na imprensa brasileira, Karla Monteiro lança a biografia “Samuel Wainer: O homem que estava lá”, fruto de uma extensa pesquisa da autora. Apresentando detalhes importantes da vida pessoal do importante jornalista até então praticamente desconhecidos, Monteiro traça brilhantemente o panorama histórico que marcou a trajetória do jornalista, que foi testemunha ocular de governos desde Getúlio Vargas até a ascensão e queda de João Goulart e o início da ditadura militar no Brasil. A biografia de Samuel Wainer é uma preciosidade não apenas para quem se interessa pela vida e trabalho do jornalista, mas também para aqueles que buscam entender os caminhos da imprensa brasileira no decorrer dos anos e os momentos históricos que marcaram a política brasileira.
Pais e Filhos
Autor: Ivan Turguêniev
Editora: Companhia das Letras
Nesta amostra do universo vasto da literatura russa, Ivan Turguêniev aborda com
maestria os conflitos intergeracionais vividos no país com a abolição da servidão – que
subjugava os camponeses a um regime similar à escravidão.
O romance tem início com a visita do jovem Arcádio, acompanhado do amigo
Bazárov, à fazenda do pai, aristocrata típico, que imediatamente passa a ser alvo de críticas
do segundo visitante. Bazárov se apresenta como “niilista”, a quem, de modo geral,
desinteressam quaisquer conceitos sociais pré-estabelecidos (há uma forte negativa às
autoridades, constante crítica a quem se dedica à filosofia e à poesia etc).
O mais interessante é perceber que a obra, datada de 1859, continua atualíssima
quanto aos embates havidos entre pais e filhos, especialmente no que toca aos aspectos
políticos e sociais experimentados e aprimorados por cada geração. Uma excelente dica
para quem pretende começar a ler livros russos.