Por Karime Loureiro, colunista VemTambém
Nesta semana em que comemoramos o Dia Internacional da Mulher (8 de março), resolvi falar sobre as mulheres do vinho. Cada uma, em sua trajetória, fez história e nos enche de orgulho!
Pauline Lhote
Filha de fazendeiros, cresceu em Champagne, rodeada por vinhedos. Aos 14 anos disse a seus pais que seria enóloga, mas uma enóloga de espumante.
Sempre decidida, direcionou sua educação superior para alcançar seu objetivo de produzir espumantes . Depois de obter um Diploma Nacional de vinificação da Université de Reims Champagne-Ardenne, Pauline foi trabalhar na Moët & Chandon, onde realizou controles de maturação, ensaios de vinificação entre outros. Em 2004, com o aumento do foco de Moët & Chandon na elaboração de champanhes rosé, Pauline passou mais tempo no processo de elaboração dos vinhos tintos usados nos espumantes rosés, incluindo o cobiçado Dom Perignon Rosé. Em 2005, Pauline levou sua experiência para Nicolas Feuillatte, outro estimado produtor de champanhe. Lá, como enóloga consultora, ela foi responsável por fazer tintos para espumantes rosé.Para ganhar experiência internacional, mas permanecer fiel às suas raízes em Champagne, Pauline aceitou um contrato de três meses em 2006 com a Domaine Chandon, a primeira casa de vinhos espumantes de propriedade francesa na Califórnia. Ela logo se apaixonou por Napa Valley e está lá desde então. No Domaine Chandon, ela atuou como enóloga assistente por quase uma década, foi promovida a enóloga em 2015 e um ano depois também assumiu a responsabilidade pelo departamento de vinícola. Gracas ao seu sucesso como enóloga, ela foi nomeada para a lista Wine Enthusiast’s Top 40 Under 40 list in 2017. Por mais bem-sucedida que ela seja, Pauline é realista no que diz respeito ao papel das mulheres na vinificação. Em suas próprias palavras, “A indústria do vinho ainda continua sendo um ambiente dominado pelos homens e, como mulher, você precisa se sentir confortável e com ela se acostumar. Cresci com dois irmãos, que acredito que ajudaram a me preparar. Como mulher , Sinto que você precisa ser muito mais convincente e persuasiva para que as pessoas sigam suas ideias e visão, então isso exige um pouco mais de esforço.”
Baronesa Philippine de Rothschild
Considerada uma das mulheres mais importantes do mundo do vinho, a francesa Baronesa de Rothschild assumiu os negócios da família após a morte de seu pai, em 1988.
Philippine foi a primeira mulher a ocupar um cargo de tamanha expressão em uma vinícola, além de ser tida como a responsável pelo sucesso de vendas de suas vinícolas nos últimos anos.
Dona de um faro único para os negócios, a Baronesa uniu-se a importantes viticultores, como o estadunidense Robert Mondavi, para criar o mais nobre tinto dos EUA e um dos maiores do mundo, o Opus One.
Além disso, Philippine modernizou as vinícolas da família, criou novas marcas de sucesso, tornou-se conceituada em todo o mundo e a maior exportadora de vinhos de Bordeaux. Ela também expandiu a produção para outros países, explorando novos terroirs.
Antónia Adelaide Ferreira
Antónia Adelaide nasceu em 1811, de uma família abastada e com créditos firmados no cultivo da vinha. Casou-se com um primo que nunca se interessou pelos negócios e que delapidou parte do patrimônio familiar.
Enviuvou aos 33 anos, sendo já mãe de dois filhos: uma menina, Maria de Assunção, e um rapaz, António Bernardo Ferreira.
A viuvez precoce despertou em si a vocação de empresária, levando-a a assumir a liderança da Casa. Fez grandes plantações de vinha, construiu armazéns, contratou colaboradores, comprou quintas importantes , tornando-se uma figura de primeira grandeza no setor do Vinho do Porto.
Sua prosperidade não foi indiferente ao Duque de Saldanha, um dos homens mais poderosos do seu tempo, o qual queria casar o seu filho com a menina Maria de Assunção. Após recusa de D. Antónia, inconformado, o duque mandou raptar a jovem, então com apenas 12 anos. Para o evitar, D. Antónia e os filhos são forçados a fugir do país, fixando-se em Londres, onde casa com um dos administradores de longa data da empresa, José da Silva Torres.
1868 foi um ano de produção excedentária de vinho do Porto. Apesar da excelente qualidade de vinho, as enormes quantidades disponíveis provocaram uma rápida saturação do mercado. Antónia teve a coragem de comprar grandes quantidades de vinho, a baixo preço, num tempo em que todos queriam vender.
Dois anos mais tarde surge a praga do oídio que destrói grande parte dos vinhedos. Apesar dos preços escalarem vertiginosamente muito poucos tinham vinho para vender. Foi a oportunidade para D. Antónia recuperar o investimento efetuado e multiplicar a sua fortuna, logo depois filoxera devastaria vinhedos causando mais prejuízo! Contudo D. Antónia não se acomodou e foi para Inglaterra estudar meios mais modernos para combater a praga, adotando processos mais sofisticados de produção do vinho e investindo em novas plantações de vinhas.
Mulher visionária lutou sempre pelos mais necessitados. Em 1880, quando ficou novamente viúva, intensificou o seu envolvimento em obras de benfeitoria, nomeadamente na construção dos hospitais de Vila Real, Régua, Moncorvo e Lamego.
Ela consolidou a empresa de forma admirável.
Dawnine Dyer
Dawnine Dyer foi pioneira na elaboração de espumantes pelo Método Tradicional Francês (Champenoise) na então incipiente indústria de vinho espumante da Califórnia nos anos 1970, sendo ainda reconhecida por criar blends de um único vinhedo no estilo Bordeaux, usando uvas Cabernet Sauvignon cultivadas em Napa Valley.
Nascida na Califórnia, ela se formou em biologia pela (University of California) e começou sua carreira” Vinícola” em 1974 na Robert Mondavi Winery. Em 1976, ela se juntou à empresa iniciante de Napa Valley, Domaine Chandon, a primeira vinícola de espumante americana de propriedade francesa. Dawnine trabalhou em conjunto com uma equipe de vinificação francesa da empresa-mãe do Domaine Chandon, Moët & Chandon, que incluía o veterano enólogo Edmond Maudiere.
Dawnine passou 25 anos como Enóloga na Domaine Chandon. Californiana convicta e sempre fã do espumante, sua passagem pela Chandon foi marcada pela introdução de muitos vinhos espumantes e estilos de vinho originais, tirando o melhor de uma rica tradição e de uma denominação promissora. Ela supervisionou toda a produção de vinho na vinícola de 400.000 caixas e também trabalhou com sua empresa-mãe na França. Em 1986, ajudou a fundar a vinícola irmã de Domaine Chandon em Yarra Valley, na Austrália, supervisionando a exportação de produtos para a vinícola da empresa na Argentina.
Em 1993, enquanto estava em Domaine Chandon, Dawnine e seu marido Bill, também viniculto, plantaram um vinhedo Cabernet Sauvignon de 2,5 acres na Diamond Mountain AVA de Napa Valley e começaram a fazer 400 caixas por ano de Dyer Vineyard ao estilo de Bordeaux vinhos usando métodos de cultivo sustentáveis.
Em 2000, Dawnine deixou Domaine Chandon para dedicar mais tempo a Dyer Vineyard. Além disso, ela e Bill foram os enólogos da Sodaro Estate Winery desde sua fundação em 1998 até 2013, e também são sócios em um novo empreendimento, Meteor Vineyard.
Dawnine foi presidente da Napa Valley Vintner’s Association e membro do conselho fundador da Women for WineSense. Ela atua como jurada em vários concursos de vinhos profissionais, incluindo o National Women’s Wine Competition, com sede nos Estados Unidos.
Barbe-Nicole Ponsardin
Primeiramente, vale salientar que este breve resumo não conta toda a genilidade desta grande mulher. Nascida em 1777, em Reims, na França, Barbe-Nicole Ponsardin casou-se com François Clicquot no ano de 1798, uma união arranjada para expandir os negócios de ambas as famílias. O marido passou a comandar a Clicquot-Muiron et Fils, empresa fundada por seu pai e cujas atividades envolviam comércio têxtil, serviços bancários e produção de vinhos.No ano de 1805, porém, François morreu precocemente em decorrência de tifoide. Ela resolveu que tomaria seu lugar na administração do negócios, passando a focar somente na produção de bebidas.As atitudes de Barbe-Nicole contrariavam o código napoleônico, legislação da época que negava às mulheres direitos civis e políticos básicos como ganhar dinheiro, trabalhar, votar e estudar em escolas ou faculdades.
Mesmo assim, ela estudou os processos da produção de champagne, e em 1810, fundou a Veuve Clicquot-Ponsardin, ou “viúva Clicquot-Ponsardin”, em português. Os anos seguintes foram difíceis, tendo quase enfrentado a falência.Em 1814, porém, a situação começou a se reverter. Buscando melhorar os lucros da empresa, passou a exportar seus vinhos para a Rússia, vendendo quase 23 mil garrafas e chamando a atenção de líderes do país como o Czar Alexandre I e seu irmão Grão-Duque Miguel Pavlovich.
A fama das champagnes Veuve Clicquot Ponsardin se espalhou rapidamente por toda a Europa, gerando um alto número de pedidos. Só foi possível atender a todos graças ao sucesso de sua próxima safra, chamada de “vindima dos cometas”, que ocorreu durante eventos astronômicos que favoreceram a qualidade das bebidas.O método criado por Barbe-Nicole foi um de seus grandes diferenciais. Conhecido como “riddling”, consiste em girar sutilmente a garrafa durante vários dias até que todo o sedimento e leveduras residuais possam ser concentradas e removidas com facilidade.
Essa técnica ainda é utilizada por diversos produtores. As champagnes da Veuve Clicquot Ponsardin são produzidas até hoje e reverenciadas mundialmente, graças ao legado deixado por sua fundadora.
Susana Balbo
Desde muito cedo, Susana Balbo deu sinais de que havia nascido para grandes feitos. Vinda de uma família tradicional da Argentina, ainda jovem decidiu que queria deixar Mendoza para estudar física nuclear, que contrariava todos os padrões da época e ao que se esperava de uma mulher de seu perfil social – não foi apoiada por seus pais, que a proibiram de seguir para Bariloche. Assim, inquieta, resolveu se envolver nos negócios da família, que já produzia vinhos, e acabou sendo a primeira mulher a se formar em enologia no país, em 1981.
Com o diploma na mão e muita determinação, nada mais a conteve. Susana seguiu para o norte, na vinícola Michel Torino, onde foi responsável por colocar a casta Torrontés no mapa do vinho argentino, Depois, ainda trabalhou em grandes vinícolas pelo Mundo.
Após árduo caminho de trabalho, realizou o sonho de ter sua própria vinícola em 1999, a Susana Balbo Wines, que até pouco tempo atrás era chamada de Dominio del Plata ( arrasta para ver as fotinhas). Nesse projeto pessoal, pôde, de fato, desenvolver seus próprios rótulos. Porém, a consolidação do projeto veio um pouco depois, quando seus dois filhos – o enólogo formado em UC Davis, José Lovaglio, e a administradora Ana – juntaram-se ao negócio, garantindo a continuidade do seu legado para as próximas gerações.
Foi eleita presidente da Wines of Argentina nos anos de 2006, 2010 e 2014. Todavia, presidir a WOFA também não bastou. Em 2015, candidatou-se e foi eleita para a uma vaga na “Cámara de Diputados de la Nación”. Em suas próprias palavras, “está cumprindo uma missão que é muito importante para Mendoza e para a Argentina: posicionar seus vinhos no mundo”. Pelo visto, ela está conseguindo.
Lilly Bollinger
Essa foi a resposta dada, por Lily Bollinger ao London Daily Mail, em 1961, diante da pergunta: “ “Quando você bebe Champagne?”
Seu nome de solteira era Elisabeth Law de Lauriston-Boubers, até casar-se, em 1923. Ela tinha 24 anos, e seu marido, Jacques Bollinger, 29.
Ele era neto de Josep Jacob, que um século antes desse casamento, em 1829, havia fundado uma maison, em Champagne.
E ela, neta de um banqueiro escocês, abraçou com paixão a vida na França, a região de Champagne, e os vinhedos administrados por seu agora marido.
Com o matrimônio, passou a se chamar Elisabeth Lauriston Bollinger, mas era conhecida como Sra. Jacques em Champagne, e era chamada de tia Lily pela família. Entrou para a história como Lily Bollinger, ou Madame Bollinger.
Ao ficar viúva, aos 42 anos de idade, assumiu as rédeas da empresa, deixada pelo marido, sem hesitar. Vale lembrar que estamos falando no ano de 1941… Agiu com bravura e com firmeza mesmo diante das dificuldades que Champagne viveu durante a 2ª Guerra Mundial, com a ocupação alemã.
Durante 30 anos, até 1971, ela esteve à frente dos negócios. Feminina e forte, elegante e determinada, soube conduzir a famosa empresa produtora de vinhos, equilibrando tradição e modernidade.
Ficou para a posteridade sua imagem andando de bicicleta pelas vinhas e estradas da região. Ela era tão conhecida por esse hábito, que ganhou de presente, ao completar 70 anos, um selim de couro de crocodilo, produzido pela famosa marca Hermès, gravado com as iniciais LLB, de Lily Lauriston Bollinger, que ela usou com sua característica discrição e simplicidade, e que hoje encontra-se em exposição.”
Mulheres fortes fazem parte da história do vinho, aliás o vinho é encantador não somente pelo seu conteúdo, mas por toda história e PAIXÃO que as garrafas “carregam”!
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